Tenho muitos cadernos onde escrevo coisas que quero guardar, que também uso para reflectir, para colocar algumas fotografias, para fazer algumas experiências no que toca à escrita, enfim, para várias coisas…
Anteontem tropecei numa história de família que guardei, e de que gosto muito, e que vou partilhar convosco.
“Grandes Gestos – 28/12/2020
A minha mãe repete muitas vezes um provérbio popular que diz que as terras pequenas não fazem gente grande. Embora haja alguma verdade no provérbio, também há muita injustiça, havendo gente grande em toda a parte e provindo gente grande de todos os lugares.
De todo o modo, é verdade que os meus avós foram lavradores e que nasceram numa terra pequena, e que tiveram poucas oportunidades na vida. A vida deles nem sempre foi fácil e eles sempre foram pessoas muito poupadas por força das suas circunstâncias.
Há alguns anos a minha avó foi diagnosticada com Alzheimer e a doença privou-a das memórias recentes.
Neste Natal a minha irmã pôs-se a puxar por ela e a perguntar o que ela queria para o Natal, até que, ao fim de um bocado a dizer que não queria nada, e que não precisava de nada, ela decidiu que queria uns brincos de ouro, e que queria que fossem de ouro mesmo e não qualquer imitação. Eles riram-se da falta de meio termo da minha avó. Brincaram com ela, e, por fim, foram todos para a cama.
Antes de se deitar, porém, o meu avô que tem escassas capacidades afectivas, foi ter com o meu pai e pediu-lhe que levasse o cartão dele e comprasse uns bons brincos de ouro, porque se era isso que ela queria, era isso que ele lhe ia dar. E fê-lo ciente de que por essa altura ela já não se lembrava do que havia pedido, e isso não lhe interessou para nada.”
Quando vos perguntarem o que é o amor, o amor é isto.